A Covid 19 e as mudanças na vida

Todos temos medo das mudanças, porém ansiamos por elas! Como explicar isto?

08/06/2020

Todos temos medo das mudanças, porém ansiamos por elas! Como explicar isto?

Nossa vida é mais um caminho, embora não uma linha reta, do que uma garagem! Os momentos de parada, por opção ou forçada, devem ser uma oportunidade de mudança. Não que saibamos com antecedência a mudança que precisa ser feita, porque é um processo que possibilita pequenas descobertas e possíveis grandes transformações.

Na vida dificilmente celebramos um dia de mudança porque ela comporta momentos de insegurança, ansiedade e busca intensa, além de provocar sofrimento pelo fato de deixar atitudes velhas e assumir novas.

Na história das nações, as mudanças dão início a um novo tempo! Na nossa vida não é diferente. O novo tempo começa com uma crise e depois a transformação em forma de um movimento em espiral e espera-se que seja para cima. Vida que entra em trilho errado, esta obrigatoriamente deve mudar. A opção por um determinado caminho quando apresenta problemas ou leva a interrupções deve ser revisto, a caminhada dever parar e buscar uma virada total na vida. É a oportunidade que estamos tendo com a parada obrigatória pela Covid 19. Todos os caminhos e todas as paradas podem se transformar em aprendizado. A nossa vida é uma sequência de crises, algumas mais intensas outras menos, mas todas elas podem nos levar ao amadurecimento e crescimento. Nesse sentido, bendita a crise.

As crises possuem uma certa parada obrigatória, como se fossem pequenas estações. Algumas são internas como nascimento, puberdade, idade do lobo (maturidade), mudança de cidade, de emprego, aposentadoria, velhice, fim da vida. Outras que nos atingem de fora: catástrofes da natureza, acidentes, guerras, desemprego, epidemias, pandemias e morte.

Há crises que nos purificam (catárquicas): crises morais, de renovação e transformação. Os sintomas da crise são: pressão, angústia, mal estar, palpitação, doenças de fundo emocional e por isso somos convidados (ou obrigados) a buscar saídas. E uma vez a crise vencida, o amadurecimento está sendo alcançado.

As estratégias ou caminhos para vencer as crises. Podemos e às vezes precisamos da ajuda de um profissional, porém será sempre um trabalho pessoal. Ninguém pode fazer essa incursão à profundidade do nosso ser senão nós mesmos. As ajudas podem vir da espiritualidade, medicina, psicologia, psiquiatria, terapia, pessoas de confiança e religião. O caminho não é nunca a fuga. O não enfrentamento só dia o problema para mais tarde, para o novo lugar geográfico ou, pior ainda, agrava os sintomas. O ditado popular diz: onde o ferro vai, a ferrugem vai atrás.

Para algumas pessoas a crise se manifesta pela não adaptação à realidade circundante. A resistência é tal que, não vendo a possibilidade de mudança de si mesmo, tentam mudar o mundo externo ou as outras pessoas. Fugir das crises, buscar pessoas que só falam o que gostamos de ouvir, são formas de permanecer nelas e cultivá-las para que não desapareçam.

Para superar as crises, busque saber quais são os seus princípios. Descobertos, fixe-se neles. Não os largue jamais. Princípio não se negocia. Seja firme com você mesmo. Se você não permanecer firme, se você transgredir os próprios princípios, você vai sentir a vida como se estivesse desmoronando e se sentir desmotivado e sem força interior para lutar.

Procure alimentar positivamente o seu interior. Tenha uma frase bíblica que motive você a lutar e vencer, ou uma frase de efeito positivo. É bom lembrar que a segurança pode ser um caminho, mas não é tudo. Se o navio no estaleiro está seguro, é bom lembrar que os navios não foram feitos para ficarem parados no estaleiro, a não ser para manutenção, reforma e revisão geral. É a proposta para este tempo que estamos vivendo. Assim como os navios, as pessoas não foram feitas para viver em estaleiros, a não ser por um motivo maior.

As pessoas buscam segurança para alegria das companhias de seguro. Mas a segurança não pode ser tão grande a ponto de levar à inanição. O excesso de segurança pode levar-nos à estagnação: nada flui, nada cresce, nada desenvolve. Se não queremos correr nenhum risco, também nada de novo vai surgir em nossa vida.

Quem busca o caminho mais profundo do encontro consigo mesmo, deve aceitar também a aventura de atravessar abismos interiores e a escuridão da alma. Grandes personalidades da espiritualidade cristã viveram momentos assim, souberam superá-los e hoje são luminares para nossa inspiração.

A vida sempre é comparada a uma viagem. No nosso contexto, ela pode ser comparada a uma viagem de navio, com momentos de tempestade e de mar calmo. Quanto mais em alto mar, menos o navio balança. Aventurar-se em alto mar é também encontrar a calma desejada.

Brás Lorenzetti, cmf