A fé em tempo de pandemia

Neste tempo de pandemia e isolamento social, a tendência é recorrer aos meios de comunicação para saber como andam "curvas" e "gráficos" de infectados ou mortos.

29/06/2020

Para tentar entender, buscamos o máximo de informação a respeito do “bichinho”, tão pequeno, mas que nos apavora tanto.

Nós buscamos desenfreadamente informação e queremos saber quais meios de prevenção para nos proteger. Os cientistas querem encontrar com urgência algum remédio que estanque a mortandade. As fake News (notícias falsas) não raro espalham o terror que toma conta do nosso dia a dia.

E para nós cristãos, o que diz a fé neste tempo de pandemia?

Somos humanos e não fugimos de tudo que diz respeito à nossa condição. Uma nuvem paira nesse tempo sobre a nossa cabeça se chama morte. Ela sempre esteve associada à religião por causa da fé na vida além túmulo. Normalmente evitamos o assunto e preferimos acreditar que o nosso dia do encontro com o Pai eterno ainda está longe. Porém, uma constatação é fatal: nunca enfrentamos uma possibilidade tão concreta de fim da nossa existência como agora, sobretudo para aqueles que fazem parte do grupo de risco. É só ficar contaminado e nossa passagem está quase garantida. O efeito em nós é, ao mesmo tempo, terrificante e de banalização.

Pensar no assunto e preparar-se para essa hora, ao mesmo tempo que revemos o fundamento de nossas crenças e convicções, é o que nos resta.

O tempo à nossa disposição é outra realidade, uma verdadeira faca de dois gumes: por um lado, preferimos estar ocupados e assim não precisamos pensar muito na vida, por outro, a disposição de tempo, associado à insegurança, provoca em nós desespero e ansiedade. É que estamos tão pouco acostumados a viver no automático e tão pouco conosco mesmos que o próprio organismo reage manifestando alguma forma de crise e ansiedade.

A fé cristã nos ensina que a convivência conosco mesmos é um modo saudável de equilíbrio. Concretamente, falamos de meditação. Sua prática sobre temas da vida e da espiritualidade nos leva ao encontro profundo conosco mesmos e com o próprio Deus presente em nós. Nisso também está uma bela oportunidade para reabastecer a fé, pois sem essa dimensão o desespero seria ainda maior. Sem fé é estar à beira do abismo, procurar apoio e não o encontrar.

Isto faz lembrar um versículo do evangelho no qual Jesus adverte para a necessidade de estar preparados (Lc 14,31): "Qual é o rei que, estando para guerrear, não se senta primeiro para considerar se com um pequeno exército pode enfrentar o inimigo que vem com um exército maior?" A passagem faz referência à necessidade de estar sempre preparados, sobretudo diante de situações de real perigo. Assim como o fortalecimento do sistema imunológico do corpo é essencial para o combate aos inimigos, igualmente importante é o sistema imunológico espiritual. É a oportunidade de uma melhor preparação. O tempo está aí, à disposição de todos.

Outra passagem do evangelho alerta par a necessidade de planejar antes de iniciar uma construção (Lucas 14,28), o que nos leva a pensar na construção da própria casa, isto é, da própria vida. Falando em termos de vida espiritual, somos também convidados a aproveitar este tempo para elaborar um bom projeto de vida espiritual.

A informação sobre o vírus, que tão ansiosamente procuramos, pode também nos lembrar a necessidade de informação e aprofundamento da própria fé. Lembramos uma frase de Blaise Pascal que diz: "As investigações científicas revelam novas maneiras com as quais Deus trabalha e nos trazem revelações mais profundas do totalmente desconhecido”. E a pergunta para todos nós pode ser: O que Deus está querendo nos transmitir com essa pandemia? Ou ainda: o que podemos aprender com tudo isso? Uma boa reflexão para todos!

Brás Lorenzetti, cmf