13/07/2020
Brás Lorenzetti, cmf
Partindo de um texto bíblico, vamos refletir sobre a importância de exercer a liderança em tempo de pandemia. Um recado especial para os jovens de todas as idades.
Josué, 1, 1-7: 1Após a morte de Moisés. Deus se revelou a Josué, o novo líder dizendo: Vamos, agora! Passa o Jordão, tu e todo o povo. Entra na terra que dou aos filhos de Israel. 3Eu vos darei toda a terra que pisarem vossos pés. 4O vosso território se será grande: do Líbano ao Rio Eufrates. 5Enquanto viveres, ninguém te poderá resistir; estarei contigo como estive com Moisés. Não te deixarei nem te abandonarei.6Sê firme e corajoso, porque tu deves introduzir esse povo na posse da terra que jurei dar a seus pais.7Tem ânimo, pois, e sê corajoso; observa cuidadosamente toda a lei que Moisés, meu servo, te prescreveu. Não te afastes dela nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas feliz em todo empreendimento que realizares. 8Traze sempre na boca (as palavras) deste livro da Lei; medita-o dia e noite, cuidando de fazer tudo o que nele está escrito; assim prosperarás em teus caminhos e serás bem-sucedido.9Isto é uma ordem: sê firme e corajoso. Não tenhas medo, porque o Senhor está contigo em qualquer parte para onde fores.
Comentário: O povo de Israel tinha saído do Egito, em busca da terra prometida. O livro de Josué relata o momento em que o povo está para tomar posse da Terra Prometida. É um tempo de chegada, mas também de grandes mudanças: de povo seminômade (vivia na estrada); passa a ser um povo estabilizado, que vai ter um lugar para ficar e morar.
Estamos pelo ano 600 a. C. A situação do povo exige organização e liderança. O seu líder Moisés tinha acabado de morrer. Isso desestabilizou a comunidade (o povo). A entrada na Terra Prometida era um sonho, mas também uma tarefa que poderia ser perigosa. O povo teria que vencer ou negociar com vários povos existentes no território a ser conquistado.
Josué, embora tivesse acompanhado Moisés, era mais jovem e sem tanta experiência. Para uma empreitada desse tamanho ele precisava de muita liderança, clareza e firmeza. E o que é que dá força a Josué? A Palavra de Deus, garantia de sucesso e ânimo na caminhada, não só a ela como também a todo o povo. É com essa força que vem do alto é que ele assume a direção de liderança para conduzir o povo ao objetivo proposto, a Terra Prometida. A relativa juventude de Josué nos faz lembrar a tarefa da juventude, que também deve ter uma força de liderança para ajudar o povo (seja a família ou as pessoas do seu relacionamento) a atravessar esse momento de pandemia que estamos vivendo.
A situação que estamos vivendo se parece muito com a vivida pelo povo de Israel às vésperas de tomar uma grande decisão. É como se tivéssemos que atravessar um grande rio, assim como o povo de Israel estava para atravessar o Rio Jordão. Assim também estamos atravessando um momento que pode ser decisivo para muitas pessoas.
Em momentos assim, sentimos a força de um líder, ou a força da liderança. Em relação ao Corona vírus, aqui no Brasil também estamos sentindo as consequências de viver o conflito entre as lideranças. E aqui não vamos avançar porque vamos cair em partidarismo que desemboca em conflitos sem solução.
O que importa é: nós, você, como jovem, o que você pode fazer, que atitude tomar nesse momento? Continua o isolamento social, o cuidado para não ser contaminado e não contaminar outras pessoas. Momento que afeta a todos: um familiar ou parente com Covid, o problema do emprego, a solidão que provoca desequilíbrio emocional, o medo. . . a questão, por exemplo, de seguir vivendo ou a possibilidade de terminar aqui a nossa vida. Nunca tivemos a morte tão próxima de nós. Que fazer nessa situação?
Estamos ainda no meio da travessia da pandemia do Corona vírus. Com certeza cada um de nós tivemos situações em que se apresentou diante de nós a necessidade de tomar decisões. Nessa hora, a liderança pode não ser uma tarefa fácil. No entanto, se não tivermos dúvida de que Deus está do nosso lado nesse momento especial de nossas vidas, teremos a certeza do caminho a seguir, e sentiremos que Deus continua dizendo para cada um de nós:
Estarei contigo, não te deixarei e não te abandonarei. O que nos dá firmeza é a firme confiança em Deus, a certeza de que ele não nos abandona.
Ser firme e corajoso é próprio do líder, não importa liderança de quantas pessoas. O líder é aquele que enxerga lá na frente, antes que as coisas aconteçam. Tua liderança vai fazer o povo atravessar essa terra de instabilidade para alcançar a terra de uma vida melhor, como é o desejo de Deus.
Tem ânimo, pois, e sê corajoso. Observa cuidadosamente a Lei de Moisés. Hoje podemos dizer: coragem, não desanime, mas também não pense que perigo passou. Observa cuidadosamente as leis de proteção, assim preservarás a vida, tua e a de teus irmãos.
Não te afastes da Lei; não te afastes dos preceitos e códigos de segurança, não acredite em soluções mágicas, como se anda falando por aí. Teu Deus é tua segurança, tua proteção vem da prudência e da experiência adquirida por aqueles que já passaram pela pior parte. A bíblia diz: não te voltes nem para a direita nem para a esquerda. Assim serás feliz pelo teu dever cumprido e feliz será todo empreendimento que realizares.
Assim também acreditamos no sucesso da liderança baseada na fé. Quando agimos com fé e discernimento, não estamos sozinhos. Deus está do nosso lado.
Que atitudes a fé nos inspira?
Comecemos pela ciência:
- O Corona vírus é traiçoeiro porque não age da mesma forma em todas as pessoas afetadas. Em alguns casos de contágio, a pessoa é assintomática, porém ela contagia outras pessoas com quem convive. O mesmo vírus que está na pessoa sem causar danos maiores, em outra pessoa causa a morte.
- O perigo é ter uma atitude de medo e desespero. Medo e desespero nos impedem de ver com clareza e tomar decisões acertadas. Medo e desespero surgem quando a pessoa fica conectada o tempo todo às notícias, o que acaba promovendo ansiedade. Essas atitudes paralisam as nossas vidas e aí somos mais facilmente presas do Covid ou até mesmo de outras enfermidades.
- Perigo é acreditar que um chá ou um simples remédio (cloroquina) podem resolver o problema. O que acontece é que não conseguimos avaliar a força desse inimigo e a experiência tem demonstrado que os idosos e os grupos de risco são os mais afetados, porém ninguém está livre do uma infecção grave.
- Uma atitude muito frequente é o chamado negacionismo – essa atitude consiste em negar os dados oficiais e científicos, e desconsiderar ou desautorizar aqueles que divulgam esses dados. A consequência é agir como se nada estivesse acontecendo.
- Agir assim é uma atitude temerária: (Temerária é a pessoa que não tem a dimensão do perigo que está à sua frente, ou o perigo que ela está incorrendo ou expondo outras ao perigo e, claro, acaba se expondo). É também uma forma de negacionismo: expor-se, não usar a proteção adequada, participar ou promover aglomerações sem nenhuma necessidade. Ex.: Bailes funk, festas...
- No contexto político: a divergência na atuação ao combate ao Corona vírus, a troca de insultos e acusações, em vez de existir união todos para combater a Pandemia. A divergência, não só impede um combate efetivo, como também passa uma péssima imagem do Brasil no exterior. -
Finalmente, um grande perigo é acostumar-se com a cifra de mortos, aumentando a cada dia, (hoje são 598 novas mortes e 43.389 óbitos) e proceder como se nada estivesse acontecendo. O vírus da indiferença e da banalização da vida pode ser pior que o próprio “Corona”.
Atitudes de fé:
- A fé sempre anda em sintonia com o bom senso e a prudência: nem o desespero, nem estar agarrado demasiadamente às notícias, nem se apegar às soluções mágicas. Faça tal oração e você está garantido... A fé nos ensina a viver com prudência. Seguro, morreu de velho, diz o ditado. A prudência faz atravessar tempestades e pandemias.
- Atitude saudável é alimentar a espiritualidade. O trabalho de autoconhecimento; conhecer-se cada dia sempre mais, em profundidade. Alimentar-se da confiança em Deus e da esperança, alicerçada na Palavra de Deus. A sabedoria diz: nós nos tornamos aquilo que alimentamos. Se buscamos o alimento na Palavra, na força da fé, no apoio dos amigos, fortalecemos a nossa espiritualidade, assim como precisamos de um organismo fortalecido para combater o vírus.
- A fé é alimentada na vivência em família. Rezar juntos é uma atitude. Outra, é aprofundar a convivência. O fato de passar em casa a maior parte do tempo é um desafio. Viver em casa provoca em nós a necessidade de convivência muito mais próxima e profunda com as pessoas da casa. Essa convivência exige de nós um autoconhecimento maior, uma atenção maior às pessoas, escutar o que elas dizem, valorizar as atividades que cada um executa, saber repartir as tarefas, valorizar a pessoa de cada um.
- O Papa Francisco tem vindo a público como nenhum outro líder no mundo para dar apoio a todas as categorias que exercem alguma liderança, e em especial aqueles que batalham na guerra contra o vírus. O Papa chama essas pessoas de heróis invisíveis. Agradece a todos e concede a bênção a todos. O Papa Francisco é o líder mundial que mais esteve e continua estando próximo a todos nessa pandemia. Ela já telefonou pessoalmente a três bispos brasileiros: D. Odilo (SP), D. Orlando Brandes (Aparecida) e D. Leonardo Stainer (Manaus). O Papa sempre teve palavras de afeto e preocupação com a pandemia, se solidariza com o nosso país e com as famílias que perderam seus entes queridos.
- A pandemia, para muitos é um momento de provação. Para quem sabe aproveitar este tempo, pode ser uma oportunidade de crescimento interior, crescimento na fé e até mesmo no amadurecimento humano. A pandemia vai passar e nós precisamos sair dela ainda melhores do que somos agora.
- Por isso pedimos a intercessão de Maria, mãe que proclama que Deus derruba os poderosos de seus tronos, ela pode também interceder por nós e nos ajudar a derrubar a pandemia que nos oprime. Seu exemplo de mãe perseverante é estímulo para todos nós. Santa Maria, Mãe da Igreja, rogai por nós!
