No retorno de Cristo está o desejo humano da morada eterna

Em uma linda mensagem, Pe. Jorge Pinheiro CMF fala sobre Jesus Cristo.

24/04/2016

As manifestações de Jesus pós ressurreição tem um duplo significado. O primeiro trata-se de confirmar a fé dos seus discípulos; intrigante é o fato de que em quase todas as manifestações acontecem num ambiente de refeição.

De fato, esse momento para um semita não é apenas para satisfação fisiológica, mas encerra-se algo maior e profundo, é um momento de intimidade de revelação onde cada um tem a possibilidade de falar de sua vida de suas expectativas e projetos futuros. Jesus ao se apresentar assim num contexto de refeição, deseja precisamente que os discípulos vivam essa vida íntima com ele e que, refeitos em suas necessidades corporais e espirituais (encontro com o Cristo ressuscitado), possam seguir num segundo caminho que é do discipulado, daqueles que farão obras maiores, não obstante aos desafios e ao martírio que os esperam.

Percebemos dentro da interpretação católica o valor da missa e a partilha do pão e do vinho, “fazei isto em memória de mim até que eu venha”. É o mandato do Senhor, pois é na ceia eucarística que recebemos de Deus a sua força, poderíamos dizer o seu espírito, a sua dinamicidade para enfrentar a nós mesmos (em nossa fraquezas e pecados) e o mundo que clama por justiça e libertação.

As aparições de Jesus, portanto são para confirmar os discípulos na fé e enviá-los em missão, agora não mais com a sua presença terrena, mas sim divina, auxiliados pelo espírito da verdade, que receberam em Pentecostes. Jesus, agora exaltado, torna-se o mediador entre Deus e os homens e junto com ele toda a humanidade que geme e chora na expectativa da plenificação total em que surgirá novos céus e nova terra, quando então Ele vier pela segunda vez de modo definitivo.

A missa, portanto, condessa essa presença definitiva e provisória ao mesmo tempo, uma vez que Ele já está no meio de nós pela fé, bem-aventurados os que creem sem terem visto. Assim, a prova maior da ressurreição de Jesus está no testemunho de cada cristão de todos os tempos e lugares: “assim conhecerão quem são meus discípulos, se vos amai uns aos outros assim como eu vos ameis”, certamente um amor infinito e incondicional. O modo como o cristão age no mundo é o que dá qualidade e testemunho à ressurreição de Jesus, por isso ainda vemos muitos Cristos sendo ultrajados e mortos, mas não ressuscitados.

Jesus apareceu durante quarenta dias aos seus discípulos e a muitos outros de diferentes modos. O número quarenta na bíblia significa um tempo suficiente de tomada de consciência, de revisão, de posições, de purificação. Neste caso, Jesus manifestando-se aos discípulos por 40 dias, significa um tempo suficiente, razoável para retomar aquele projeto que pareceu sucumbir diante da morte horrenda na cruz.

Assim, após o domingo da ressurreição, também chamado de “domingo pascalis”, a Igreja conta 40 dias para celebrar a festa da Ascensão (subida do Cristo ao céu) e a retomada do seu Senhorio, do lugar devido, que a ele pertencia antes da criação do mundo, tornando-se o Kyrios (Senhor e doador de vida, dono do tempo e do espaço, nele está a eternidade). Agora (Jesus, o Cristo) leva consigo a humanidade, “homem provado na dor e no sofrimento”, “em tudo provou a condição humana”. É esse mesmo Jesus sofredor que agora está sentado a direita do Pai.

O retorno de Cristo revela que os discípulos já se encontravam suficientemente preparados para agir no mundo. “Ide a todos e a todos pregai o evangelho”: essa foi a missão dada a todos os cristãos e dela depende a nossa salvação.

Pe Jorge Pinheiro CMF

Missionário Claretiano e responsável pela Paróquia São Pedro e São Paulo em Rio Claro.